terça-feira, 15 de setembro de 2009

O que pensar para a UNE no próximo período??



A história do Brasil é marcada por profundas desigualdades. Desde sua colonização até os dias de hoje a sociedade brasileira construiu suas instituições e relações sociais influenciada pelo jugo ferrenho da ambição das grandes potências, seja na forma da exploração direta perpetrada antigamente pelas metrópoles, seja mascarada pelo mercado financeiro e pelo poder das grandes multinacionais dos dias atuais.
A forma de acumulação de capital imposta pelos países centrais do capitalismo nos tornou hoje uma sociedade subdesenvolvida, cujo paradoxo do “desenvolvimento” existente nos países da América do norte e nos países da Europa ocidental só se fez possível através de séculos incessantes de saque das riquezas, genocídio das populações nativas, aculturação e das mais bárbaras formas de desrespeito à pessoa humana.
A evolução desse quadro nos levou hoje a uma sociedade que fez as pessoas passarem a ser unicamente “indivíduos”, restritos ao respeito apenas de seus próprios interesses e ensinados a valorizar mais as coisas do que a dignidade e a vida humana. Assim, a sociedade do consumismo se estabeleceu fortalecendo uma tendência histórica de desigualdade: uma estruturação econômica pautada em interesses que nunca foram os interesses diretos da maioria do povo brasileiro e uma hegemonia de pensamento voltada a tratar os problemas sociais como meras conseqüências irremediáveis da “modernidade” e do “desenvolvimento”.
Por outro lado, no Brasil se constituiu uma elite que sempre teve o sonho de nunca ter sido brasileira. Foram e são eles os grandes beneficiários do modelo de desenvolvimento que até hoje temos: são os grandes latifundiários acostumados a executar trabalhadores que ousam lutar pela reforma agrária, grandes proprietários de instituições privadas de ensino superior apavorados com as propostas de democratização e ampliação do ensino público. Fazem parte desse grupo também os grandes donos das mega empresas de telecomunicações, acostumadas a forjar consensos e a manipular a opinião pública de acordo com seus interesses! São justamente eles os responsáveis pela defesa de um modelo que tenta imitar a qualquer custo as escolhas e projetos feitos nos países centrais, esquecendo-se das diferenças dos processos históricos entre Brasil e Alemanha, por exemplo.
Crescemos e vivemos em uma conjuntura dominada por uma série de valores que nunca contribuíram para a construção de um outro mundo possível, marcado pela globalização da solidariedade e do desenvolvimento social. Dessa forma, o mesmo discurso dominante que exige mão forte da justiça contra o jovem pobre da periferia que é levado ao mundo do crime esquece de tratar como bandido o grande empresário que sonega impostos e o latifundiário que escraviza pessoas nas suas propriedades. O mesmo senso comum utilizado para criminalizar os movimentos grevistas, é conivente com as chantagens e ameaças de locaute provenientes dos setores patronais.   
No final da década de setenta as crises do petróleo nos fizeram presenciar a falência do Welfare State e junto com ele a inutilidade completa da social-democracia ou de qualquer proposta amenizadora dos efeitos do sistema capitalista. O fim da URSS nos lançou diretamente nos braços do capitalismo, que forjou o “pensamento único” e o “fim da história” com o objetivo de se sustentar e manter as benesses das classes dominantes à custa do sofrimento cada vez maior do povo.
Meios de comunicação e alguns intelectuais já prenunciavam a vitória completa do regime de mercado, enquanto que Francis Fukuyama escrevia sobre a certeza do futuro capitalista da sociedade, diante da total falência do socialismo como meio de contraposição.
Assim, a mais nova forma de expansão capitalista se tornou hegemônica principalmente na América Latina, infelizmente. A globalização e o neoliberalismo surgiram pautando a internacionalização da economia e a diminuição do Estado, esquecendo-se que no Brasil o Estado nunca esteve faticamente presente na vida dos trabalhadores, dos estudantes de baixa renda, dos desempregados, das donas de casa e etc.
A Globalização do Neoliberalismo é a globalização da barbárie social! Os preceitos do estado mínimo e do ajuste fiscal contribuíram para destruir quase que completamente os serviços públicos, a saúde, a seguridade social e a educação pública, em detrimento do fortalecimento sem precedentes da iniciativa privada, pautada unicamente pela lógica do lucro.
Os preceitos de abertura e desregulamentação econômica, assim como a política cambial equivocada, causaram a maior desestruturação do sistema produtivo brasileiro já vista na história, lançando milhões de trabalhadores ao desemprego e a informalidade. Por outro lado, também teve como conseqüência uma quase que completa internacionalização de nossa economia, fazendo-nos perder autonomia de gestão financeira e estabelecimento de metas sociais.
A política monetária foi marcada pela restrição ao crédito, pelo arroxo salarial e pela perda do poder de compra dos trabalhadores. As privatizações alem de representarem um dos maiores absurdos de nossa história, corroeram a capacidade de o estado atuar e direcionar suas políticas para a resolução dos problemas do povo, ou seja, de combater a fome o desemprego, por exemplo.
            Infelizmente, seguindo essa lógica nefasta, as Universidades brasileiras se forjaram como instituições extremamente hegemonizadas pela lógica do individualismo. Alem de serem historicamente restritas a uma pequena parcela mais abastada da sociedade, a produção do conhecimento não é vista como um instrumento estratégico capaz de dar cabo a um projeto de desenvolvimento nacional, popular e soberano. Ao contrário disso, o tripé ensino/pesquisa/extensão é deixado de lado em detrimento da forma instrumentalizada como os estudantes são formados, a fim de servirem unicamente como mão de obra para o mercado de trabalho e não para intervirem como agentes críticos capazes de transformar o status quo.   
            Dentro desse quadro, o tema da Assistência estudantil se coloca com uma importância fundamental para todos os militantes progressistas dentro das universidades. A tarefa prioritária de todo o conjunto militante socialista é incendiar as mentes e embalar os sonhos revolucionários de todos aqueles que em cujos corações ainda arde a chama da construção de uma sociedade mais igualitária, que consiga dar respostas às necessidades da população mais pobre.
            Não existe universidade popular e sociedade igualitária sem a formulação de políticas consistentes que tragam resultados no sentido de manter o estudante produzindo conhecimento, formulando alternativas de desenvolvimento, forjando-se como um agente capaz de apresentar caminhos transformadores.
            Como militantes transformadores que somos e seguindo o acúmulo histórico que caracteriza a nossa entidade, a orientação principal daqueles que vêem na UNE um instrumento primordial de luta deve ser no sentido de democratizar o acesso ao ensino superior e construir uma nova universidade que esteja em contato com os anseios e com as necessidades populares.
A assistência estudantil é o meio essencial para fazer com que o estudante continue na universidade produzindo conhecimento e construindo concretamente a relação dela com a sociedade, seja através da construção de creches universitárias, da universalização das bolsas de pesquisa e extensão ou da construção de espaços culturais e restaurantes universitários.  
Durante as últimas décadas presenciamos um processo gradativo de destruição do ensino público ao mesmo tempo em que governos neoliberais como o de Collor e FHC sustentavam a crescimento absurdo do ensino superior privado, resultando na crise em que as universidades federais se encontram atualmente. Esse processo foi acompanhado de um descaso cada vez maior em relação à assistência estudantil culminando em 1997 quando o ministro Paulo Renato, embalado pela orientação imposta pelas doutrinas do ajuste fiscal e da diminuição da atuação positiva do estado, extinguiu os recursos específicos do MEC para essa área.
É essa lógica reacionária que devemos contrapor! Essa opção histórica fez com que as taxas de evasão tenham sido e ainda sejam engrossadas pelos jovens que precisam trabalhar para sustentar a família, por aqueles que moram em lugares distantes ou em cidades que não possuam campus universitário, pelos jovens do interior que enfrentam uma série de dificuldades, pelas mães que precisam cuidar dos filhos, etc.
Não acabaremos com todos esses problemas se a entidade de representação das lutas estudantis no Brasil se deixar mergulhar na inércia, caindo no erro pragmático e contra-revolucionário que faz os jovens acreditarem que política é coisa chata e distante ou que a representatividade estudantil transformadora pode ser construída apenas em vésperas de eleições ou congressos. A UNE precisa se inserir cada vez mais nas universidades, sejam elas públicas ou privadas, buscando a formação de consensos e coalizões direcionados por um programa avançado, democrático e progressista, fazendo jus à defesa intransigente da universidade pública, formando e aglutinando rumo a uma perspectiva de transformação socialista do ensino e da sociedade. A luta estudantil é uma luta concreta, do dia-a-dia, que deve ser focada na atuação militante engajada, com ampla influência e com uma pauta de reivindicações fortalecida, que possa influenciar de fato a luta de classes, a luta institucional e a luta de idéias.
A ampla coalizão que se conformou no 51° CONUNE, representada pela aliança da ampla maioria  dos setores que vêm se posicionando ultimamente ao lado das transformações ocorridas na nossa sociedade com a eleição do governo em curso, representa, com certeza, o caminho mais lúcido que poderia ser tomado pela entidade para garantir o isolamento do conservadorismo, do sectarismo e do esquerdismo espontaneísta, pois coloca no centro da política estudantil nacional a discussão de novos valores e práticas, um novo programa de transformações, uma nova forma de ver a atuação militante e as tarefas do movimento estudantil nacional.
Ter construído esse amplo bloco significa um avanço concreto no sentido de detonar a dispersão dos estudantes, os tubarões de ensino e os valores conservadores e atrasados que infelizmente ainda se sustenta na nossa sociedade, lançando as bases para o surgimento de uma hegemonia ideológica de esquerda, comprometida com a defesa do nosso povo.
Durante essa gestão, temos a possibilidade real de apresentar paradigmas concretos para além dos marcos da concepção liberal burguesa de educação, criando instrumentos de luta e transformação que solapem cada vez mais os dogmas do pensamento único, rumo a construção de um outro mundo: democrático e, antes de tudo, socialista.

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